av Henrique Soares Jacobina
246,-
Qual é a verdadeira dimensão da vida, não sabemos. Estamos intensamente presentes, de tal forma a comprometer o estranhamento e a isenção recomendáveis para conceituá-la com maior precisão.A dimensão da morte, essa conseguimos palidamente mensurar. Sim, mensuramos, como fazemos com o metro a partir de uma barra de platina iridiada. Precisamos fazer comparações. E, normalmente, o que nos surge quando pensamos na morte é a dor, a perda, o sofrimento, a ausência. Ou seja, qualquer parâmetro que tomamos para acessar o conhecimento do que é morte provém do precário conhecimento que temos do que é a vida, com suas paixões, temores, enfim, valores, na maior parte das vezes, de base materialista, pois se não é a matéria aquilo tudo por que lutamos no dia a dia quando estamos "vivos".Assim, o ser humano, por séculos, navegou em um conhecimento dúbio, múltiplo e confuso do que seria vida e a morte. Deuses surgiram onipotentes, com seus raios, trovões, tempestades, manhas e artimanhas. Templos os mais suntuosos foram construídos em todas as civilizações. Quanto mais estupefaciente o local de culto mais poderosa a divindade. Séculos se passavam de glória e fulgor, e, mais dia menos dia, desaparecia a imbatível entidade, destronada que sempre era pelos deuses dos novos povos que chegavam, após a vitória em alguma ou algumas batalhas de muito suor, lágrimas e sangue. Os novos deuses do novo império hegemônico, estes sim, mais uma vez, seriam verdadeiros e únicos no universo, até a decadência da civilização que o cultuava.Esse ciclo continuou por milênios e ninguém consegue declarar com total segurança que ele tenha terminado. Pelo menos ninguém que se encontre inserido no atual contexto, e que não tenha a intrepidez de romper com a tradição que o formou, para balbuciar os primeiros traços de um discurso mais condizente.Portanto, para se falar sobre vida e morte de forma idônea e independente há que se ter alguns requisitos, até hoje dificilmente encontrados nos adeptos das religiões assentes. Primeiro, faz-se necessário um afastamento; segundo, a intrepidez; e, por último, o descompromisso.Na presente obra, Djalma Vasconcellos Grandson e Henrique Soares Jacobina se lançam na aventura de mostrar uma nova abordagem sobre o tema. Ambos trazem os requisitos para um grande discurso. O primeiro, formado em filosofia, direito e engenharia, é um escritor maduro e descompromissado com mercados e opiniões. O segundo é um jovem intrépido, inteligente, ousado e, sobretudo, sem a dimensão dos encarnados. Isso mesmo, o espírito de Henrique Soares Jacobina, estudante de direito e sociologia quando ainda portava um esqueleto, dá um show do que é vida e morte, bem ao estilo dos diálogos platônicos, com um tempero muito mais agradável. Ele surfa pelo tema com graça, humor e leveza. Para tanto, lastreia-se, com talento, na sua nova dimensão, no conhecimento próprio e do pai, além de contar com o contraponto necessário da expertise de Manuel, um primo espírita, mais velho, que desencarnou dias depois dele, no início de 2013. Diáhlogos com Hagá, baseada em fatos verídicos, é, definitivamente, uma obra de humanidade.