av Max Telesca
386,-
No distópico Lisarb, um Brasil revirado pelo avesso, vimos, no primeiro volume desta sagä 2038, publicado em 2016 ¿ que os costumes haviam se degradado, num mundo em que a corrupção era uma variável da economia, da política e do próprio tecido social. Este volume 2 da saga, 2047, está sintonizado com a crise que vivemos hoje. Quase 10 anos após os protestos de 2038 e a derrocada do Partido Ético e Verdadeiro ¿ PEV, o jornalista Alex Tedesco volta ao país para coordenar a campanha de Cairo Góes à presidência da República e tentar desalojar do poder o mentecapto Lair Montanaro. O romance narra as desventuras de um país mergulhado na farsa e no desengano. Engana-se quem pensa que trata do futuro. Aqui está o presente do futuro, ou vice-versa, o futuro do presente ¿ o presente de desgraças e desalento de um país em que tudo parece andar para trás. Temos uma pandemia, a doença Rened-47, a luta pela vacina, boicotada pelos negacionistas, e a eleição presidencial próxima. Os candidatos: Lucas, Lair Montanaro, Servius Mórus, Cairo Góes, etc. Alex Tedesco tem um passado nebuloso com a política e com belas mulheres, apaixonantes ou falsas e arrivistas, como Benigna Alphonsus, ex-Maria Lígia Gnatalli (femme fatale, que ¿fazia do embuste a sua prática cotidianä), mas também progressistas, que acreditam na ciência e na fraternidade. Tedesco percebe que Cairo Góes é ¿um velho político de centro-esquerda, com experiência de disputa em três eleições presidenciais, cansado de guerra e sem paciênciä. Descobre que as pessoas ¿simplesmente desistiram do centro¿. Persiste a polarização, Lucas e Lair. No poder, Montanaro, ¿líder de uma aglomeração disforme e construída sobre o falso¿ teve de desfazer-se de ¿suas falsas falas moralistas¿. Seu governo é ¿o rascunho de uma caricaturä. Não dá a mínima para a Rened-47 e, como seus seguidores que negam a realidade, contrai a doença e começa a ter a pele transformada em couro. Aos poucos, as mãos e os pés aos poucos viram cascos, a coluna se dobra e a voz torna-se um grunhido, no melhor estilo dos romances de realismo mágico dos anos 70. Neste 2047, uma narrativa envolvente que trafega da descrição à memória e à reflexão (de temas pessoais, íntimos, sociológicos ou políticos), além de humor, sarcasmo e pessimismo, há também lirismo e esperança. No meio de tudo, há espaço para cativantes personagens secundários, como um porteiro de prédio que lê e comenta romances clássicos, provavelmente de Hemingway, e surgem diálogos saborosos. Boa parte do livro trata do bonito e comovente encontro do narrador com uma filha desconhecida, fruto de um antigo relacionamento: Isabel, que se dedica à ciência. E isso será a salvação de Alex. Um romance que certamente vai irritar e incomodar muita gente, mas também divertir e alegrar. Luiz Fernando Emediato, editor